Governo subsidia até 6.500 euros a compra de um carro eléctrico

Executivo dará incentivos que irão pôr o custo de compra dos veículos eléctricos ao nível dos outros. A oferta a gasolina está ameaçada? A Nissan diz que não.

O primeiro-ministro, José Sócrates, lançou ontem novas medidas para tornar Portugal mercado obrigatório para os fabricantes de carros eléctricos. Em breve será publicada legislação para dar incentivos aos consumidores que venham a comprar carros eléctricos, aliviar a carga fiscal das empresas que apostem em frotas deste tipo de veículos e permitir aos proprietários destes carros carregar baterias não só na rua mas também nas garagens.

O pacote terá sido decisivo para que a Nissan escolhesse Portugal para instalar uma fábrica de baterias de iões de lítio, mas vem sobretudo consolidar a aposta que o Governo lançou no fim de Junho sob a designação Mobi.E. O plano da mobilidade eléctrica inclui descontos na compra de carros eléctricos até 2012, pelo menos. A forma desse incentivo (deduções fiscais, desconto imediato no concessionário ou outras soluções) não está ainda definida, mas os portugueses poderão contar com um desconto de cinco mil euros na compra de carro eléctrico ou 6.500 euros se nesta compra entregarem para abate um usado.

A medida irá aproximar os preços destes carros aos dos veículos com motores de combustão interna. Os fabricantes que trabalham com carros eléctricos, como a Nissan, Renault, Mitsubishi e General Motors saem a ganhar, amortizando automaticamente uma parte substancial do sobrecusto dos carros eléctricos (estima-se que as baterias custem entre 6 mil e 10 mil euros).

José Sócrates, que daqui a dois meses será avaliado pelo eleitorado, quer que a mobilidade eléctrica seja igualmente uma preocupação das empresas. Para isso o Governo irá reduzir em 50% o IRC das empresas que decidam equipar-se com frotas de carros eléctricos. Os detalhes desta medida também não foram ontem divulgados.

Outra linha dos incentivos à introdução dos carros eléctricos obrigará as construtoras a terem uma nova preocupação: todos os novos edifícios com garagens serão obrigados a disponibilizar pontos de carregamento para carros eléctricos. Não ficou claro no anúncio de Sócrates se isso passará por tomadas eléctricas convencionais ou por pontos de carregamento como os que existirão na via pública, em que o proprietário do carro eléctrico usará um cartão de cliente para ter acesso à electricidade.

A Nissan recebeu o pacote de incentivos da melhor maneira. "O que vimos em Portugal foi um compromisso profundo", avaliou Eric Nicolas, vice-presidente da Nissan Europe. Os esforços do Governo arrancaram no ano passado, quando o presidente da Renault Nissan, Carlos Ghosn, veio a Lisboa lançar um estudo sobre a viabilidade de introdução de carros eléctricos em Portugal. Desde então, foi formalizada uma cooperação entre várias empresas para montar uma rede de abastecimento, que deve ter 100 pontos de carregamento ainda este ano e superar os 1.300 em 2011. "Após o nosso acordo no ano passado, todos no Governo português têm trabalhado arduamente, lado a lado com a aliança [Renault Nissan]", comentou Eric Nicolas.

A ACAP - Associação Automóvel de Portugal deu as boas-vindas à fábrica da Nissan. O seu secretário-geral, Hélder Pedro, disse à Lusa que "é extremamente positiva para o País e vem reforçar o 'cluster' automóvel". Mas a tónica posta por José Sócrates na mobilidade eléctrica pode também ser um golpe na venda de carros convencionais. Com um custo de aquisição subsidiado, o carro eléctrico tem consumos mais económicos do que os dos veículos a gasolina ou gasóleo. Mesmo assim, Eric Nicolas acredita que este impulso aos carros eléctricos não é fatal. "Não penso que em cinco ou dez anos vejamos os carros clássicos desaparecer", vaticinou.

In Jornal de Negócios

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