Conversão dos actuais veículos automóveis em veículos eléctricos

Nós e a revolução automóvel

O anúncio pela Nissan da construção em Portugal de uma fábrica de baterias de iões de lítio, destinadas a veículos eléctricos e envolvendo um investimento de €250 milhões, é obviamente uma excelente notícia, ainda mais no contexto de crise em que o mundo vive.
Esta decisão da aliança Renault-Nissan vem dar substância à estratégia do Governo para tornar Portugal um mercado obrigatório para os fabricantes de veículos eléctricos. Estes veículos, contudo, apresentam ainda um preço demasiado elevado, pelo que o Governo vai incentivar a sua compra em €5 mil (ou €6500 se for entregue um carro com motor de combustão para abate). O próximo passo será obviamente tentar captar um construtor internacional destes veículos do futuro.
Parece uma estratégia brilhante, mas não é a única. Pedro Sena da Silva, presidente da Autosil, defende uma alternativa: a criação de uma indústria de conversão dos actuais veículos automóveis em veículos eléctricos. Com efeito, Portugal é neste momento, no que toca ao parque automóvel, um mercado saturado ou muito próximo disso. Além disso, tendo em conta a situação de crise que vivemos, não é de esperar que as pessoas comecem a trocar furiosamente os seus carros actuais pelos novos veículos eléctricos que, em qualquer caso, não chegarão ao mercado português senão em 2011. Por isso, o que se propõe é que os sete milhões de veículos que existem no mercado português sejam reconvertidos pela indústria nacional. E isto porque já foram desenvolvidas com sucesso no país várias experiências de transformação de veículos comuns em veículos eléctricos. Em 2007, uma equipa da Escola Superior de Tecnologia de Viseu converteu um automóvel convencional (um Volvo de 1991) num veículo 100% eléctrico. E a Autosil procedeu à transformação de um Smart Fortwo para veículo eléctrico com uma bateria de ião de lítio construída pela empresa portuguesa.
Não deve, pois, ser muito difícil reunir o saber português que já existe sobre esta matéria, mais um grupo de empresas nacionais do sector automóvel, em particular a indústria de componentes para automóveis, e apostarmos na criação em Portugal de uma indústria de reconversão de veículos que pode vir a ter expressão internacional. Com efeito, se pensarmos que no mundo existem entre 800 milhões e mil milhões de veículos temos uma ideia da gigantesca tarefa que a humanidade tem pela frente, se efectivamente pretende transformar toda esta ciclópica frota convencional numa frota eléctrica.
Ora os grandes produtores actuais de veículos convencionais estão já a caminho de se tornarem produtores de veículos eléctricos. Mas haverá milhões de pessoas no mundo que não só não terão disponibilidades financeiras para comprar os novos veículos, como haverá muitos que vão preferir manter os seus automóveis actuais, adaptando-os à nova tecnologia. E aqui Portugal tem uma excelente janela de oportunidade.
É evidente que tem muito maior impacto anunciar acordos de investimento estrangeiro para criar fábricas de automóveis em Portugal. Mas o país ficará a ganhar muito mais se rentabilizar as suas capacidades nesta área, apostando na referida indústria de reconversão. Vamos tentar?

Nicolau Santos
Expresso Online
Segunda-feira, 27 de Jul de 2009

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